sábado, 22 de maio de 2010

RASPAR A TINTA


“O essencial é saber ver. Mas isso exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender. Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos...” Volta-me à memória o meu amigo raspando a tinta das paredes da casa centenária que comprara, tantas tinham sido as demãos, cada morador a pintara de uma cor nova sobre a cor antiga. Mas ele a amou como uma namorada. Não queria pôr vestido novo sobre vestido velho. Queria vê-la nua. Foi necessário um longo strip tease, raspagens sucessivas, até que ela, nua, mostrasse seu corpo original: pinho de riga marfim com sinuosas listras marrom.

Nós. Casas. Vão-nos pintando pela vida afora até que memória não mais existe do nosso corpo original. O rosto? Perdido. Máscara de palavras. Quem somos? Não sabemos. Para saber é preciso esquecer, desaprender.

Segunda aranha, segundo fio, Bernardo Soares: nós só vemos aquilo que somos. Ingênuos, pensamos que os olhos são puros, dignos de confiança, que eles realmente vêem as coisas tais como elas são. Puro engano. Os olhos são pintores: eles pintam o mundo de fora com as cores que moram dentro deles. Olho luminoso vê mundo colorido; olho trevoso vê mundo negro.

Nem Deus escapou. Mistério tão grande que ninguém jamais viu, e até se interditou aos homens fazer sobre ele qualquer exercício de pintura, segundo mandamento, “não farás para ti imagem“, tendo sido proibido até, com pena de morte, que o seu próprio nome fosse pronunciado. Mas os homens desobedeceram. Desandaram a pintar o grande mistério como quem pinta casa. E a cada nova demão de tinta mais o mistério se parecia com as caras daqueles que o pintavam. Até que o mistério desapareceu, sumiu, foi esquecido, enterrado sob as montanhas de palavras que os homens empilharam sobre o seu vazio. Cada um pintou Deus do seu jeito. Disse Ângelus Silésius: o olho através do qual Deus me vê é o mesmo olho através do qual eu vejo Deus. E assim Deus virou vingador que administra um inferno, inimigo da vida que ordena a morte, eunuco que ordena a abstinência, juiz que condena, carrasco que mata, banqueiro que executa débitos, inquisidor que acende fogueiras, guerreiro que mata os inimigos, igualzinho aos pintores que o pintaram.

E aqui estamos nós diante desse mural milenar gigantesco onde foram pintados rostos que os religiosos dizem ser rostos de Deus. Cruz credo! Exorcizo. Deus não pode ser assim tão feio. Deus tem de ser bonito. Feio é o cremulhão, o cão, o coisa-ruim, o demo. Retratos de quem pintou, isso sim. Menos que caricatura. Caricatura tem parescença. Máscaras. Ídolos. Para se voltar a Deus é preciso esquecer, esquecer muito, desaprender o aprendido, raspar a tinta...

Os que não perderam a memória do mistério se horrorizaram diante dessa ousadia humana. Denunciaram. Houve um que gritou que Deus estava morto. Claro. Ele não conseguia encontrá-lo naquele quarto de horrores. Gritou que nós éramos os assassinos de Deus. Foi acusado de ateu. Mas o que ele queria, de verdade, era quebrar todas aquelas máscaras para poder de novo contemplar o mistério infinito. Outro que fez isso foi Jesus. “Ouvistes o que foi dito aos antigos; eu porém vos digo...“ O deus pintado nas paredes do templo não combinava com o deus que Jesus via. O deus sobre que ele falava era horrível às pessoas boas e defensoras dos bons costumes. Dizia que as meretrizes entrariam no Reino à frente dos religiosos. Que os beatos eram sepulcros caiados: por fora brancura, por dentro fedor. Que o amor valia mais do que a lei. Que as crianças são mais divinas que os adultos. Que Deus não precisa de lugares sagrados - cada ser humano é um altar, onde quer que esteja.
Por Rubem Alves

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Não Acredito


Não acredito em um deus narcisista que se diz misericordioso, mas criou uma câmara de fogo para jogar pessoas que cometeram erros, sendo imparcial e fica rindo das desgraças alheias. Não acredito em um deus que se diz amor, mas criou tal lugar somente para enviar suas criaturas.

Não acredito em um deus surdo e mesquinho que tenho que gritar, orar, implorar e rezar repetitivamente para acordá-lo e para que não se esqueça de atender meu pedido. Que para comovê-lo, tenho que fazer inúmeras barganhas, sacrifícios, penitências afim de chamar sua atenção, pois ele é muito distraído e não consegue dar atenção a todos ao mesmo tempo. Creio em um Deus Onipotente , Onipresente e Onisciente.

Não acredito em um deus pobre que ordena a pagar 10% de pedágio ao devorador devido ele não conseguir sanar minha divida e é muito fraco para enfrentar o tal “devorador”.
O Deus que acredito é forte e rico já pagou todas as minhas dívidas, pegou a promissória, rasgou, riu do cobrador, triunfou sobre ele, e não há o que ele cobrar.

Não acredito em um deus com complexo de inferioridade, que eu tenho que falar o seu nome o dia inteiro, declarar o meu amor constantemente para alegrá-lo e o estimular a reconhecer a sua grandeza.
Meu Deus é o que ele é, é por si próprio soberano.
Não acredito em um Deus que entristece com o pecado de um pequenino, caso ele fosse assim seria alguém eternamente triste e depressivo, pois todos pecam em todo momento.

Não acredito em um deus capacho que recebe ordens humanas. O meu Deus é Supremo, Absoluto e Imperante.

Não acredito em um deus racista, religioso, seletivo, divisor de grupos. Meu Deus é Amor, reconciliador e unificador de povos, línguas, raças e nações.
Por Marck Amorim

terça-feira, 18 de maio de 2010

NÃO SUPORTO


Não suporto mais igrejas serem administradas como empresas, e o nome de Jesus virando marca que vende bem, e os fiéis se tornarem clientes consumidores de serviços religiosos.
Não suporto a teologia da prosperidade que está dizimando a verdade e consumindo nossas igrejas como câncer. Esse ensinamento parece até uma parceria de Mamom e Jeová.
Não suporto mais ver lideres ensinando os membros de igrejas a serem “vaquinhas de presépio” que só sabem balançar a cabeça dizendo sim, transformando-os em marionetes, colocando fardo e peso de desobediência nos pequeninos que pensam diferentes, desprezando os pensadores e estudiosos que zelam a verdade sobre a bíblia e o Reino de Deus, assim como os cristãos de Beréia em Atos 17:11.
Não suporto a cópia de movimentos eclesiásticos que deram certo em outros países, tornando tais métodos empresarias em regras de fé e prática. Tais métodos vistos como melhor ou única forma de evangelismo e crescimento explosivo.
Não suporto ver os púlpitos dos templos serem invadidos e transformados em palanques de propagandas políticas.
Não suporto mais ouvir escândalos de políticos “Cristãos” envolvidos com roubos, pedofilias, propinas, desvio de dinheiro público, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos.
Não suporte ver pessoas possessas de espíritos malignos (se é que realmente estão possessas) virando entretenimento na TV e rádio. Estão dando mais ênfase nas palavras de “endemoniados” do que na mensagem da palavra de Deus. É comum ver possessos falando ao microfone em programas e igrejas evangélicas.
Não suporto rituais e macumbarias evangélicas como: rosa ungida, sal grosso, sabonete de arruda, shampoo do descarrego, dar metade de bombom para conquistar pessoa amada, e rituais que se dão nome de “atos proféticos como: quebrar caixão dentro da reunião (culto), enterrar objetos e urinar em volta da cidade, etc.
É decepcionante o rumo que tomou a maioria dos grupos e cantores evangélicos, transformando em mercado as músicas com mensagens cristãs e colocando peso nos irmão ouvem músicas seculares, forçando os Cristãos a comprarem CDs evangélicos alimentando assim o mercado formado por eles.
Não suporto ver evangélicos se transformando em caricatura de americano, europeu, australiano. É terrível como somos influenciados por estrangeiros vindos de países ricos e desenvolvidos e que por esse motivo são considerados bem sucedidos e possuidores de maior unção.

Por Marck Amorim

CONVITE À NORMALIDADE DA VIDA


Não me lembro de um tempo em que pessoas estivessem tão ansiosas, ávidas e as vezes, acho eu, até desesperadas para uma “tal” experiência com Deus, como vejo nestes atuais dias conturbados. Ao mesmo tempo em que, lendo “O EVANGELHO DE JESUS DE NAZARÉ” encontro um CONVITE À NORMALIDADE DA VIDA. Especialmente quando leio a respeito dos milagres de Jesus. Os milagres, devolveram às pessoas, outrora, mutiladas, deformadas, desconfiguradas, marginalizadas, à NORMALIDADE DA VIDA. Isto é, homens e mulheres, voltaram para suas casas, para suas atividades profissionais, para seus relacionamentos pessoais, enfim voltaram para vida, inteiros, refeitos, alegres, “pé no chão”. Tornaram-se maridos normais, esposas normais, filhos normais, profissionais normais...Claro, por terem sido curados, passaram a enxergar a vida com olhos que nunca antes enxergaram, até porque, alguns eram cegos. Passaram a andar e se locomover de um modo como nunca antes, até porque, muitos eram coxos, mancos. Passaram a tocar com as mãos como nunca antes, pois muitos tinham mãos mirradas, encolhidas, insensíveis. Passaram a enxergar mais longe, pois alguns só olhavam para o chão, pois tinham suas colunas encurvadas. Querido, se você de fato já se encontrou com Jesus de Nazaré, abandone a ansiedade e este desespero por um “algo mais” na sua caminhada com Deus. CAMINHE na naturalidade da vida. CAMINHE na leveza da Graça. CAMINHE crendo que Deus te deu o Melhor que tinha no céu. CAMINHE com bom humor. CAMINHE sem legalismos. CAMINHE sem culpas. CAMINHE sem religiosidades. CAMINHE sem crendices. CAMINHE sem medos de maldições. . CAMINHE sem pesos. CAMINHE livre.CAMINHE com a alma SOSSEGADA. Sim, ORE, ADORE, SIRVA, mas, certo que, você é AMADO(A) do PAI ETERNO. O CAMINHO DA GRAÇA é o CAMINHO DA “VIDA COM SABOR DE GRAÇA E DA GRAÇA COM SABOR DE VIDA”.

Por Carlos Bregantim

A Tranqüilidade das Ovelhas


A noite estava escura, céu sem estrelas. De vez em quando ouvia-se o uivo de um lobo bem longe, misturado com o barulho do vento. As crianças reunidas na tenda do Mestre Benjamin estavam com medo. Mestre Benjamim sentiu o medo nos seus olhos. Foi então que uma delas perguntou: - Mestre Benjamim, há um jeito de não ter medo? Medo é tão ruim!Mestre Benjamim respondeu:- Há sim... E ficou quieto. Veio então a outra pergunta:- E qual é esse jeito?- É muito fácil. É só pensar como as ovelhas pensam...- Mas como é que vou saber o que as ovelhas estão pensando?Mestre Benjamim respondeu:- Quando durante a noite, as ovelhas estão deitadas na pastagem, os lobos estão à espreita. E eles uivam. As ovelhas têm medo. Mas aí, misturado ao uivo dos lobos, elas ouvem a música mansa de uma flauta. É o pastor que cuida delas e não dorme nunca. Ouvindo a música da flauta elas pensam: Há um pastor que me protege. Ele me leva aos lugares de grama verde e sabe onde estão as fontes de águas límpidas. Uma brisa fresca refresca a minha alma. Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas. Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro da morte eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranqüilizam. Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer. Passa óleo perfumado na minha cabeça para curar minhas feridas. E me dá água fresca para sarar o meu cansaço. Com ele não terei medo, eternamente... (Salmo 23, paráfrase)Mestre Benjamim parou de falar. Os olhos de todas as crianças estavam nele. Foi então que uma delas levantou a mão e perguntou:- E os lobos? Eles vão embora? Eles morrem?- Os lobos continuam a uivar. E continuam a ser perigosos. O pastor não consegue espantar todos eles. E por vezes eles atacam e matam. Mas as ovelhas, ouvindo a música da flauta do pastor dormem sem medo, não porque não haja mais perigo, mas a despeito do perigo. Não há jeito de acabar com o perigo. Mas há um jeito de acabar com o medo. Coragem é isso: dormir sem medo a despeito do perigo...As crianças voltaram para suas tendas e dormiram sem medo, pensando nos pensamentos das ovelhas. De vez em quando, lá fora, ouvia-se o uivo de um lobo faminto. Desde então, tornou-se costume contar ovelhinhas para dormir.

Por Rubem Alves

Não Importa Onde Você Parou....


Não importa onde você parou...Em que momento da vida você cansou...O que importa é que sempre é possível e necessário "RECOMEÇAR".RECOMEÇAR é dar uma nova chance a si mesmo...É renovar as esperanças na vida e, o mais importante...Acreditar em você de novo.Sofreu muito neste período?Foi aprendizado...Chorou muito?Foi limpeza da alma...Ficou com raiva das pessoas?Foi para perdoá-las um dia...Sentiu-se só por diversas vezes?É porque fechaste a porta até para os anjos...Acreditou em tudo que estava perdido?Era o início de tua melhora...Onde você quer chegar?Ir alto?Sonhe alto...QUEIRA O MELHOR DO MELHOR...Se pensamos pequeno...Coisas pequenas teremos...Mas se desejarmos fortemente o melhor ePRINCIPALMENTE LUTARMOS PELO MELHOR...O melhor vai se instalar em nossa vida.Porque sou do tamanho daquilo que vejo.E não do tamanho da minha altura."
Carlos Drummond de Andrade

Uma história do Mestre Benjamim


A tenda do Mestre Benjamim estava cheia. Uma velhinha de voz trêmula e pele cheia de rugas lhe pediu: "Mestre, fale-nos sobre Deus..."Mestre Benjamim fez silêncio. Olhou para o vazio. Vagarosamente um sorriso foi-se abrindo."Quantas pessoas aqui, na minha tenda, estão pensando no ar? Por favor, levantem a mão..."Ninguém levantou a mão."Ninguém levantou a mão... Ninguém está pensando no ar. E, no entanto, todos nós o estamos respirando. O ar é a nossa vida e não precisamos pensar nele nem dizer seu nome para que ele nos dê vida. Mas o homem que se afoga no fundo das águas só pensa no ar. Deus é assim. Não é preciso pensar nele e pronunciar seu nome. Ao contrário, quando se pensa nele o tempo todo é porque está se afogando..." Que desejamos para nossos filhos? Que eles sejam felizes. Sorrimos ao vê-los por aí a correr, a cantar e a brincar, pensando nas coisas de criança.Mas enquanto brincam e riem eles não pensam em nós. Se um filho, ao se levantar viesse até você e o elogiasse, e agradecesse porque você lhe deu a vida e jurasse amor para sempre, e fizesse a mesma coisa na hora do almoço, e repetisse ao meio da tarde e de noite fizesse tudo de novo, suspeitaríamos de que alguma coisa não está bem. O que desejamos é que eles gozem a vida sem pensar em nós. Quem pensa demais e fala demais sobre Deus é porque não o está respirando."Fez-se silêncio. Foi quando uma lufada de vento entrou pela tenda, fazendo balançar a lâmpada de óleo que pendia do teto."Deus é como o vento. Sentimos na pele quando passa, ouvimos a sua música nas folhas das árvore e o seu assobio nas gretas das portas. Mas não sabemos de onde vem nem para onde vai. Na flauta o vento se transforma em melodia. Mas não é possível engarrafá-lo. Mas as religiões tentam engarrafá-lo em lugares fechados a que eles dão o nome de "casa de Deus". Mas se Deus mora numa casa estará ausente do resto do resto mundo? Vento engarrafado não sopra..."Ouviu-se então o pio distante de uma coruja."Deus é como um pássaro encantado que nunca se vê. Só se ouve o seu canto... Deus é uma suspeita do nosso coração de que o universo tem um coração que pulsa como o nosso. Suspeita... Nenhuma certeza. Deus nos deu asas. mas as religiões inventaram gaiolas.Tudo o que vive é pulsação do sagrado. As aves do céu, os lírios dos campos... Até o mais insignificante grilo, no seu cri-cri rítmico, é uma música do Grande Mistério.É preciso esquecer os nomes de Deus que as religiões inventaram para encontrá-lo sem nome no assombro da vida. Não precisamos dizer o nome -rosa- para sentir seu perfume.Deus mora no nosso mundo, passeia pelo jardim. Deus é beleza. Quer ver Deus? Veja a beleza do Sol que se põe. Quer ouvir Deus? Entregue-se à beleza da música.Quer sentir o cheiro de Deus? Respire fundo o cheiro do jasmim. Quer saber como é o coração de Deus? Empurre uma criança num balanço.Eu vejo Deus em cada uma das vinte e quatro horas e em cada instante de cada uma delas, nos rostos dos homens e das mulheres eu vejo Deus."Ouvindo estas palavras a velhinha sorriu para o mestre Benjamim e fez um sinal com a mão, abençoando-o.Do livro "Perguntaram-me se acredito em Deus" de Rubem Alves.

Cinco Cegos


Viviam, num país do oriente, 5 cegos que mendigavam juntos à beira de um caminho. Eram amigos em virtude de seu infortúnio comum. Todos tinham um grande desejo. Já haviam ouvido falar de um animal extraordinário, enorme, chamado elefante. Tão maravilhoso era o dito animal que muitos afirmavam que ele era divino. Mas eles, pobres cegos, nunca haviam estado com um elefante. Ah! Como gostariam de conhecer um elefante. Aconteceu, porque Alá ouviu suas preces, que um domador de elefantes foi por aquele caminho conduzindo seu animal. Foi uma festa! A criançada gritando, homens e mulheres falando. Ouvindo tal rebuliço os cegos perguntaram: " O que está acontecendo?" "Um elefante, um elefante", responderam. Eles se encheram de alegria e pediram ao domador que os deixassem tocar o elefante, já que ver não podiam. O domador parou o animal e os cegos se aproximaram. Um deles foi pela traseira, agarrou o rabo do elefante e ficou encantado. O segundo foi pelo lado, abraçou uma perna e ficou encantado. O terceiro apalpou o lado do elefante e ficou encantado. O quarto passou as mãos nas orelhas do elefante e ficou encantado. E o último segurou a tromba e ficou encantado. Ido o elefante os cegos começaram a conversar. "Quem diria que o elefante é como uma corda!", disse o primeiro. "Corda coisa nenhuma", disse o segundo. " É como uma palmeira". "Vocês estão loucos", disse o terceiro. " O elefante é como um muro muito alto." "Vocês não são só cegos dos olhos", disse o quarto. " São também cegos da cabeça. Pois é claro que o elefante é como um ventarola." " Doidos, doidos", disse o quinto. " O elefante é como uma cobra enorme..." Por mais que conversassem eles não conseguiram chegar um acordo. Começaram a brigar. Separaram-se. E cada um deles formou uma seita religiosa diferente: a seita do deus-corda, a seita do deus palmeira, a seita do deus parede, a seita do deus ventarola, a seita do deus cobra...

Rubem Alves

Ser Evangélico


Há evangélicos que se vestem de terno e gravata e mulheres de saia rodada.
Há outros que podem usar bermudas e jeans.
Há também que se veste de forma metal (todo de preto) usam correntes e brincos.

Há evangélicos quem ouvem somente músicas da harpa e cantor cristão e o instrumento a ser tocado somente pode ser de sopro.
Há outros que cantam as mesmas músicas más que tocam também o violão.
Há outros que tocam várias músicas gospels com todos os instrumentos.
Há outros que tocam heavy metal no templo.
Há outros que ouvem músicas gospels e também seculares.

Há evangélicos que não tomam bebidas fortes, entre eles café e vinho.
Há outros que bebem café.
Já há outros que bebem refrigerantes, café e também um pouco de vinho.
Há outros que bebem todos os tipos de bebidas (cerveja, vinho, café, refrigerante, etc)

Há evangélicos que não podem de maneira alguma praticar ou assistir esportes.
Há outros que não podem assistir TV. Há outros que podem praticar esportes e assistir TV. Há outros que participam de programas da TV. Há outros que são donos de Redes de TV.

Há evangélicos que não acreditam na existência do Espírito Santo. Há outros que acreditam que já houve esse mover na época de Pentecoste. Há outros que acreditam que Ele está no nosso meio. Há outros que acreditam que Ele é Deus. Há outros que acreditam que é o Espírito de Jesus. Há outros que acreditam que Jesus e Deus são a mesma pessoa. Há outros que acreditam que Jesus é somente o Filho de Deus. Há quem acredita que Jesus foi apenas um profeta.

Há quem acredita que devemos seguir a lei de Moisés. Outros acreditam que devemos seguir a Graça falada por Paulo. Há outros que acham que devemos juntar as duas coisas e fazer uma mistura. Há outros que acham as duas coisas são a mesma coisa.
Há que acredita que não há mais lei e todos os que quiserem serão salvos. Há que acredita que poucos serão salvos. Há quem acredita que o inferno é aqui e outros acreditam que ainda está por vir.
Há quem acredita que os evangélicos não podem enriquecer e devem dividir tudo com os demais, outros já acreditam que devem ser ricos e comer o melhor dessa terra. Há também quem acredita que devem resgatar (roubar) as riquezas dos “Ímpios” e trazer para “igreja” e há quem ache isso uma babaquice.

Há quem acredita que evangélicos não podem sofrer. Há quem acredita que a causa do sofrimento é o pecado. Há quem acredita que o cristão deve sofrer e passar por aflições por causa de Cristo. Há quem acredita que o sofrimento é devido as circunstancias da vida e ninguém está livre disto. Há quem acredita que os evangélicos são as pessoas mais felizes do mundo e todos os problemas estão resolvidos.

Há evangélicos que acreditam que Hitler foi usado pelo Diabo, outros por Deus para quitar a “dívida” dos Judeus sobre o sangue do Inocente (Cristo). Há quem afirme que foi a possessão extrema de satanás e há evangélicos que ajudaram Hitler.
Há evangélicos que foram queimados em fogueiras, há outros que ajudaram a queimar quem não era protestante.

Há evangélicos que acreditam que todos são obrigados a dar o dizimo, outros não acham obrigação e sim uma maneira de partilhar. Outros acham que se não derem Deus enviará como castigo o “devorador” e a pessoa se tornará mais pobre. Há quem ache que se der ficará mais rico. Há quem por via das dúvidas acaba dando para não correr o risco. Há quem quer Lucrar com o dizimo alheio.
Há evangélicos que acreditam em atos proféticos (Patéticos) e pontos de contatos (rosa ungida, sal grosso, óleo de Israel, Areia da terra “santa”, Copo de Água ungido, Túnel da unção e tantos outros). Há quem ache isso influência religiosa oriunda do Candomblé. Há quem ache esses rituais uma afronta a Deus. A também quem quer apenas lucrar com esses rituais.

Há quem acredita que a “Igreja Deus é Amor” ignora a Graça e não será salva. Há evangélicos que acreditam que somente a “Deus é Amor” é que será salva. Há evangélicos da Assembléia de Deus que acreditam que somente eles serão salvos. Já há Batistas que acham que somente eles estão certos e por isso são mais merecedores. Há quem acredita que a IURD não é evangélica e por isso não será salva, pois é apenas uma empresa com fins lucrativos e há outros que acham eles fantásticos por serem a Instituição que mais tem crescido financeiramente. Há evangélicos que odeiam a Renascer em Cristo, mas adoram a Internacional da Graça e há outros quando se encontram dão as mãos e chamam de irmãos (oh classe unida, rsrsrs).

Há quem bata no peito e diga:
- “Tenho orgulho de ser evangélico”.
A quem insista em perguntar: - Você é evangélico? Fica minha pergunta, o que é ser evangélico?


Por Marck Amorim