quarta-feira, 16 de março de 2011

A ESCOLHA


Era noite e Sr Damião estava sentado junto à fogueira. Colocou algumas batatas doces entre as brasas e com a paciência infinda, observara as estrelas do céu enquanto a refeição ficara pronta.
Com a noite, chegou também o frio, e ouvia-se o piar da coruja na arvore perto do chafariz de águas naturais, cantando sua música que não parecia ter fim.
Achegaram-se a ele outros dois moradores do bosque para uma conversa matine.
O papo estava sadio e gostoso, conversavam sobre a vida e sobre a beleza natural da criação.
De repente, ouviram o grito de uma senhora, velhinha de cabelos grisalhos e andar vacilante.
Correm para ver o que estava acontecendo, com exceção de Sr Damião que devido sua idade, caminhou vagarosamente com sua bengala. Chegando perto da Senhora, viram-na chorando compulsivamente.
-Tudo bem com a Senhora? Perguntou Manoel, amigo do Sr Damião.
-Acabei de ser furtada! Levaram a minha bolsa e todos os meus documentos. Gritava a velhinha desesperada.
-Como aconteceu? Perguntaram todos, como se tivessem ensaiado um coro, talvez, nem com ensaio o coro sairia tão perfeito.
-Estava eu, voltando da reunião de oração na minha igreja e devido a demora para acabar a reunião, saí sozinha a caminhar em direção a minha casa, mas fui interceptada por dois jovens que puxaram minha bolsa e saíram correndo. Disse a velhinha em lágrimas.

Acudiram-na e levaram a velhinha segura até sua casa.

Voltando os moradores para a fogueira, iniciaram a conversa e o assunto não poderia ser outro.

-Esses ladrões vão queimar no mais profundo inferno! Disse Manoel com ódio em seu olhar.
-Sr Damião, se Deus é justo, não deveria lançar esses idiotas no inferno? Perguntou Pedrão em um tom de voz que mais parecia uma afirmação.
Sr Damião por um instante permaneceu calado e com um estranho sorriso no rosto, olhou nos olhos de cada um deles, com muita sabedoria começou uma nova estória:

Dizem os antigos que há alguns anos atrás, existiu uma mulher com o nome de Sofia.
Ela era Judia, e viveu no tempo da segunda Guerra mundial.
Sofia tinha dois filhos, uma menina e um menino, juntos foram levados para um campo de concentração nazista e um soldado alemão forçou-a escolher entre o filho e a filha.
-Qual será executado e qual será poupado? Perguntou o soldado.
Esse episódio hoje é conhecido como “Escolha de Sofia”.
-No seu caso, Pedrão, qual é a escolha de Sofia na sua vida, qual dos seus filhos escolheria para morrer? Pietro ou Pablo?
- Nunca pensei nisso e nem quero pensar. Essa é uma escolha que nunca vou fazer. Prefiro morrer que chegar a esse ponto. Respondeu ele.
Continuou Sr Damião...
-Assim também é Deus. Mesmo que alguns de seus filhos sejam errantes, Ele jamais tomará a decisão de condenar seus filhos. Por tamanho Amor, o Sr das Parábolas, entregou sua própria vida em troca da vida de seus filhos. Esse é o verdadeiro Amor!

Nesse instante, Pedrão abaixou a cabeça e começou a refletir.

-O inferno é a própria vida sem Deus para aqueles jovens, continuou Sr Damião. A vida deles já é um grande sofrimento, não há pior condenação que viver longe de Deus.

-Pedrão, se um de seus filhos fizesse algo de errado, você gostaria que ou outro virasse as costas para Ele? Perguntou Sr Damião.

-É lógico que não! Respondendo sem pestanejar.

-Também não podemos virar as costas para os nossos irmãos errantes. Temos que amá-los a ponto deles não suportarem tamanho amor. Essa é a vontade do Pai, que nos amou primeiro com seu Amor incondicional.
-Nós também erramos e nossos erros não são menores para Deus, mas achamos que somos melhores que nosso próximo que erra de maneira diferente de nós.

-É você tem razão, disse Manoel. Se tratássemos as pessoas com amor, o mundo seria contagiado. O amor é a corrente contagiante que jamais pode ser quebrada.
O caos no mundo é a falta de amor, se Deus é Amor, o mundo sente a falta de Deus, mas não porque Deus está ausente e sim porque viramos as costas para Ele no momento que viramos as costas para o nosso próximo, mesmo sendo ele distante.

Sr Damião se levantou, rodeou a fogueira até achar uma maneira melhor de tirar suas batatas. De tanta conversa, retirou as batatas já torradas da fogueira.
Disse Manoel:
-Ainda bem que meu alimento da noite foi suas palavras, pois se tivesse esperando para comer batatas, com certeza estaria frustrado agora... Todos caíram em gargalhadas!


Marck Amorim

Nenhum comentário:

Postar um comentário